HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA EM PACIENTES COM ARTRITE REUMATÓIDE
Publicado em 27.11.2019Diego Chedraoui Cosac, Vitor Alves Cruz, Nilzio Antonio da Silva, Jozelia
Rêgo.
Serviço de Reumatologia – Hospital das Clínicas – Faculdade de Medicina –
Universidade Federal de Goiás – Goiânia – Brasil.
RESUMO:
Este trabalho teve como objetivos avaliar a prevalência de hipertensão
arterial em pacientes com artrite reumatóide; descrever as medicações anti-hipertensivas utilizadas; e avaliar o cumprimento das metas terapêuticas propostas pelo Consenso de Comorbidades em Artrite Reumatoide, da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Foram analisados 81 pacientes, e destes, 39 pacientes (48,14%) apresentavam hipertensão arterial. Todos estavam em uso de, pelo menos, uma droga anti-hipertensiva. O adequado controle pressórico e o cumprimento das metas terapêuticas foram observados em 26 pacientes (66,66%). Conclusões: A prevalência de HAS na artrite reumatoide é elevada. A maioria dos pacientes cumpre as metas terapêuticas propostas pelo Consenso Brasileiro. Pacientes com artrite reumatoide devem ser continuamente monitorados quanto aos riscos cardiovasculares, objetivando o seu reconhecimento precoce e diminuição da ocorrência de eventos fatais.
ABSTRACT:
The objective of this paper was to assess the prevalence of arterial
hypertension in patients with rheumatoid arthritis; to describe the
antihypertensive drugs used; and to evaluate compliance with the therapeutic goals proposed by the Brazilian Society of Rheumatology Consensus on the Management of Comorbidities in Patients with Rheumatoid Arthritis. Eighty-one patients were analyzed and thirty-nine patients (48.14%) presented with hypertension. All of them had been using at least one type of antihypertensive drug. The adequate pressure control and achievement of therapeutic goals were noted in 26 patients (66.66%). Conclusions: There is a high prevalence of SAH in patients with rheumatoid arthritis. Most of the patients meet the therapeutic goals proposed by the Brazilian Consensus. Patients with rheumatoid arthritis should be monitored continuously with regards to cardiovascular risks, aiming at an early detection and a decrease in fatal
events.²
INTRODUÇÃO:
A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica, de
natureza auto-imune e etiologia desconhecida. Os eventos cardiovasculares
representam a principal causa de óbito nesta enfermidade 1 .
Pacientes com AR apresentam um estresse oxidativo maior, disfunção
vascular, e hipertensão arterial². O presente estudo teve como objetivos avaliar a prevalência de hipertensão arterial em pacientes com artrite reumatóide; descrever as medicações anti-hipertensivas utilizadas; e avaliar o cumprimento das metas terapêuticas propostas pelo Consenso de Comorbidades em Artrite Reumatoide, da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
METODOLOGIA:
Foram incluídos pacientes com diagnóstico de AR, conforme os critérios
do ACR-EULAR 2010 3 O diagnóstico de HAS foi estabelecido com base na VI
diretriz de HAS da Sociedade Brasileira de Cardiologia 4 . A meta terapêutica foi determinada de acordo com o Consenso de Comorbidades em AR 5 , que sugere níveis pressóricos menores que 130 x 80 mmHg para esta população.
RESULTADOS:
Este estudo descritivo, retrospectivo, avaliou 81 pacientes, sendo 69
pacientes do sexo feminino (85,18%), e 12 pacientes do sexo masculino
(14,8%), com idade média de 55,02 anos.
Os principais resultados são apresentados nas figuras abaixo:

Figura 1: Prevalência de HAS em pacientes com AR, no Hospital das Clínicas
de Goiânia – FMUFG – Brasil.³

Figura 2: Classes de fármacos anti-hipertensivos prescritos para pacientes
com AR, no Hospital das Clínicas de Goiânia – FMUFG – Brasil.

Figura 3: Distribuição dos pacientes com AR, de acordo com o controle da
pressão arterial, no Hospital das Clínicas de Goiânia – FMUFG – Brasil.
DISCUSSÃO:
A relação entre as doenças inflamatórias crônicas e o aumento do risco
cardiovascular tem sido descrita na literatura. Citocinas pro-inflamatórias,
como IL-1 e TNF-alfa, estão associadas à ativação das células endoteliais,
aterosclerose, aumento da resistência vascular e, em última análise, à HAS 6,7 . No presente estudo, observou-se uma prevalência de HAS, nos
pacientes com AR, de 48,14%. Maradit-Kremers et al 8 descreveram uma
prevalência de 51,7%; e Dessein et al 9 descreveram uma prevalência de 49%. Kravounaris et al 10 e Panoulas et al 11 observaram prevalências maiores, em 66% e 70,5%, respectivamente. As diferenças de frequências entre os estudos podem ser explicadas pelas características étnicas e geográficas dos pacientes. Nos pacientes com AR, a prevalência é maior do que na população em⁴ geral, na qual é reportada em 30% 4 . Fatores relacionados à doença inflamatória, faixa etária mais elevada, e uso de medicações que causam aumento da resistência vascular, podem justificar tal achado 1 . O Consenso de Comorbidades em Artrite Reumatoide, da Sociedade Brasileira de Reumatologia 5 , recomenda o uso preferencial de IECA ou BRA como terapia anti-hipertensiva, devido aos efeitos benéficos destes fármacos sobre o endotélio vascular, a menor interferência no metabolismo dos carboidratos, e a menor incidência de dislipidemia 9 .A maioria de nossos pacientes encontrava-se em uso de IECA ou BRA (74,35%), seguindo as orientações da Comissão de AR. De acordo com as metas terapêuticas, propostas pelo Consenso Brasileiro 5 , para manutenção dos níveis pressóricos em 130/80 mmHg, observou-se que 66,66% dos nossos pacientes cumpriram a mesma. No estudo de Panoulas et al 11 , apenas 21,63% dos pacientes encontravam-se dentro da meta estabelecida. A alta prevalência em nosso estudo pode ser explicada pela adesão de toda a equipe médica às orientações propostas pela Sociedade Brasileira.
CONCLUSÕES:
A prevalência de HAS na artrite reumatoide é elevada. A maioria dos pacientes cumpre as metas terapêuticas propostas pelo
Consenso Brasileiro. Pacientes com artrite reumatoide devem ser continuamente monitorados quanto aos riscos cardiovasculares, objetivando o seu reconhecimento precoce e diminuição da ocorrência de eventos fatais.
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